Ontem, no carro, Victor um amigo fiel, um missionário daqueles que todo líder de uma base missionária quer ter um, compartilhou a respeito de ter recebido uma carta de uma das adolescentes que frequentam a Casa Amarela, onde ela abre seu coração revelando ser ele, Victor, como um verdadeiro pai para ela. Na carta ela diz o amar como um pai e ressalta: “eu sei que você deseja que eu seja uma excelente menina que não vive mais uma vida desregrada e que você quer que eu ande com Jesus! Bem quero te avisar que este tempo vai chegar!”
Enquanto dirigia e numa velocidade bem amena para não perder a atenção na conversa pude ouvir dele algo que faz toda diferença na nossa vida. Após eu comentar um pouco sobre a cartinha que ganhara às vésperas do dia dos pais, e quase chorar por ver aonde Deus tem nos feito chegar ele menciona: “isso é o nosso salário!”
Verdade amigo! Isso é o nosso salário! Hoje novamente entre marchas e curvas e engarrafamentos uma voluntária afirmou que uma outra adolescente, esta que recentemente fora batizada, fez na escola onde estuda uma homenagem aos pais e eu fui a pessoa homenageada por ela. Ai meu Deus! Quem aguenta isso! Na minha carteira guardo há meses uma carta de uma outra criaturinha, dessas que Deus pincela em nossos corações, parece anjo que vem para te dizer siga em frente! Deus é contigo! Nesta carta ela diz exatamente isso: “Você é como meu pai pra mim”
Voltando a bordo do carro no dia de ontem eu disse para o missionário: estas meninas estão dizendo para nós: ” Não parem! Por favor não parem! Vocês não têm esse direito!”
Isso é o nosso salário! Olho para nossas vidas na Casa Amarela dia a dia indo e vindo. Pilhas de louças, banheiros a serem limpos, moscas, pernilongos, cozinhar todo dia para vinte, para trinta, quarenta… Crianças vítimas do descaso, filhas do caos, missionários sem salário, sem plano de aposentadoria, sem compras do mês, sem FGTS, sem férias e sem comprovação de renda e o que eu ouço e vejo é que tudo isso parece ser nada diante da possibilidade de ver vidas sendo transformadas, atingidas, discipuladas… Olho para o lado e vejo meninos, meninas, homens e mulheres que tudo que eles amam é estar ali onde estamos! Querem amar, querem ser amados, lembrados, viver uma vida sem muita coisa mas querem viver!
Eu não tenho o direito de parar! Nossa vida é uma ponte onde o amor vai e vem! Quando chego com meu carro no portão pela manhã e estaciono e recebo abraços calorosos do “meu filho negão” e ele diz: tá cheiroso patrão! Hahaha eu lembro que às vezes exagero no perfume só pra ele dizer isso mais uma vez! Quando o vejo sorrindo, crescendo, tirando documentos, virando homem, descubro o quanto sou feliz por tê-lo por perto. Aliás este dia dos pais ele sentará à mesa comigo! Que honra!
Não temos o direito de parar! Isto é o nosso salário!
Sentar na sala e bater papo, ir até à cozinha e fazer um cafezinho, andar uma milha, andar duas, visitar os amigos, servir o lanche e o almoço todo dia. Apagar a luz que nunca apagam, secar o chão do suco derramado todos os dias na hora do almoço. Controlar os nervos quando as crianças estão impossíveis, trazer pra casa, levar no shopping, cinema, parque, praia… Tudo isso é o nosso salário!
Os dias passam, elas crescem e o legado fica!
Valeu missionário!
Há um fogo queimando dentro de nós e este fogo é o amor de Deus!
Nós não temos o direito de parar!
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